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Confissão

Texto: Carlos Drummond de Andrade

Livro: Impurezas do branco - pag 29

É certo que me repito

é certo que me refuto

e que, decidido, hesito

no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto

entre o velho e o novo rito

atiro à cesta o absoluto

como inútil papelito.

 

Certo, certo, certo,

que mais sinto que reflito

as fábulas do deserto

do raciocínio infinito.

É tão certo que me aperto

numa tenaz de mosquito

como é trinta vezes certo

que me oculto no meu grito.

 

É tudo certo e prescrito

em nebuloso estatuto.

O homem, chamar-lhe mito

não passa de anacoluto.

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